A partir de que idade crianças e adolescentes devem dosar o colesterol?

15 março, 2025

Níveis alterados dessa lipoproteína levam ao acúmulo lento e progressivo de gordura nas artérias, causando a doença aterosclerótica, principal causa de infarto e AVC.

Segundo a cardiologista pediátrica e ecocardiografista fetal Mirna de Sousa, do Hospital Israelita Albert Einstein em Goiânia, o colesterol deve ser dosado em crianças de 2 a 8 anos de idade, cujos pais ou avós tenham algum histórico de risco, como infarto, AVC, doença arterial periférica, hipercolesterolemia (colesterol total acima de 240mg/dl, de difícil controle) ou outros fatores de risco cardiovascular (hipertensão, diabetes, tabagismo passivo e obesidade, por exemplo).


Na faixa etária dos 9 aos 12 anos, o exame deve ser feito em todas as crianças, independentemente do histórico familiar. Já entre 12 e 16 anos, a triagem do colesterol volta a ser de acordo com os casos na família ou surgimento de novo fator de risco. Dos 17 aos 21 anos, recomenda-se que todos façam ao menos uma triagem do colesterol e, se os níveis vierem alterados, o exame deve ser repetido a cada seis meses até voltar ao normal.


Para menores de 2 anos, não há a indicação de triagem. “Na infância, a elevação do colesterol é absolutamente assintomática, mas a lesão das artérias começa muito precocemente. Por isso a importância do diagnóstico ainda no começo, para que os pais possam iniciar as medidas de mudança de estilo de vida, já que é na infância que se estabelecem os hábitos para a vida toda. Não há momento melhor para esse tipo de intervenção”, orienta Sousa.


As medições de lipídios foram definidas como anormais se um ou mais desses resultados fossem identificados: colesterol total (≥ 200 mg/dL); colesterol de lipoproteína de baixa densidade (≥ 130 mg/dL); colesterol de lipoproteína de densidade muito baixa (≥ 31 mg/dL); colesterol de lipoproteína de densidade não alta (≥ 145 mg/dL) e triglicerídeos (≥ 100 mg/dL para crianças de 9 anos ou ≥ 130 mg/dL para pacientes de 10 a 21 anos).


A partir do diagnóstico de alterações do colesterol, a primeira recomendação é não medicar. O ideal é apostar em mudanças no estilo de vida, especialmente na prática de atividades físicas regulares e adaptações na dieta. Além disso, dependendo do caso, pode ser que outras doenças estejam levando à dislipidemia, como diabetes ou problemas renais e, nesses casos, é preciso usar medicamentos específicos.

 

O USO DA ACETILCISTEÍNA POR FUMANTES E O RISCO DE CÂNCER

29 janeiro, 2025

A acetilcisteína (N-acetilcisteína, ou NAC) é um composto amplamente utilizado como mucolítico (para ajudar a dissolver o muco) e como antídoto em casos de overdose de paracetamol.  A marca mais conhecida é o Fluimucil.  Além disso, devido às suas propriedades antioxidantes, tem sido estudada em diversas condições, incluindo doenças pulmonares. No entanto, a relação entre o uso de acetilcisteína em fumantes e o risco de câncer de pulmão é complexa e ainda não totalmente esclarecida.

Alguns estudos sugerem que, em certos contextos, os antioxidantes podem ter efeitos paradoxais, potencialmente promovendo o crescimento de células cancerígenas ao proteger essas células dos danos oxidativos que poderiam inibir sua proliferação. Um estudo publicado na revista Science Translational Medicine em 2014 (Sayin et al.) investigou o efeito de antioxidantes, incluindo a acetilcisteína, em modelos de câncer de pulmão em camundongos. Os resultados sugeriram que os antioxidantes poderiam acelerar a progressão do câncer de pulmão em camundongos expostos a carcinógenos. Esse estudo levantou preocupações sobre o uso de antioxidantes em fumantes, mas é importante notar que os resultados em modelos animais nem sempre se traduzem diretamente para humanos.

  1. Estudos em Humanos:

    • Até o momento, não há evidências conclusivas em humanos que associem diretamente o uso de acetilcisteína ao aumento do risco de câncer de pulmão em fumantes.

    • A maioria dos estudos em humanos tem focado no uso de acetilcisteína para condições como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e fibrose pulmonar, sem encontrar uma associação clara com o aumento do risco de câncer.


  2. Recomendações Atuais:

    • A acetilcisteína continua sendo considerada segura para uso em suas indicações aprovadas, como mucolítico e no tratamento de overdose de paracetamol.

    • Para fumantes, a principal recomendação para reduzir o risco de câncer de pulmão é parar de fumar, independentemente do uso de antioxidantes.



 

O USO DE MONTELUCASTE NA ASMA - REAÇÕES ADVERSAS NEUROPSIQUIÁTRICAS

4 julho, 2024



O montelucaste é um antagonista dos recetores dos leucotrienos indicado como terapêutica adjuvante no tratamento da asma persistente ligeira a moderada, ou na profilaxia da asma cuja componente predominante seja a broncoconstrição induzida pelo exercício.

O tratamento com montelucaste tem sido associado, desde há alguns anos, ao desenvolvimento de reações adversas neuropsiquiátricas. O Grupo de Coordenação para o Reconhecimento Mútuo e Descentralizado (CMDh) da Agência Europeia do Medicamento (EMA) e a agência reguladora norte-americana (FDA) confirmaram, recentemente, a existência destes riscos e consideraram não existir suficiente conscientização sobre os mesmos por parte dos profissionais de saúde, nem adequada transmissão de informação aos pacientes e cuidadores. Em consequência, ambas as agências determinaram a inclusão de advertências adicionais na informação dos medicamentos contendo montelucaste.

Uma revisão efetuada pelo Comité para Avaliação de Riscos em Farmacovigilância (PRAC) deu conta da possível associação de perturbações da fala à terapêutica com montelucaste. Foram reportados casos de gagueira, a maioria dos quais envolvendo crianças com idade inferior a 5 anos. O tempo médio para aparecimento foi relativamente curto – 8 dias,1,3,4 por vezes em associação a outros eventos neuropsiquiátricos. Em mais de metade dos casos os sintomas desapareceram após descontinuação da medicação; em alguns casos ocorreu o reaparecimento dos sintomas após reexposição ao fármaco, todos em crianças.

Esta revisão endossou também a inclusão na informação dos medicamentos contendo montelucaste de relatos muito raros de sintomas obsessivos-compulsivos, que geralmente ocorreram após um período de tratamento mais prolongado – tempo médio para aparecimento de 61 dias, por vezes em conjunto com outros eventos neuropsiquiátricos. A maioria dos casos resolveram-se com a interrupção do tratamento.

A FDA, após revisão da informação disponível, reavaliou os benefícios e riscos do uso do montelucaste e decidiu reforçar as advertências existentes sobre as alterações comportamentais e do humor e os relatos de suicídios. Em alguns casos, os indivíduos tinham comorbilidades ou tomavam outros medicamentos associados a risco aumentado de alterações comportamentais ou autoagressão.

 

Em resumo, a reações adversas neuropsiquiátricas do montelucaste incluem:

- Pouco frequentes: perturbações do sono, incluindo pesadelos, insónias, sonambulismo; ansiedade, agitação, incluindo comportamento agressivo ou hostilidade; depressão; hiperatividade psicomotora, incluindo irritabilidade, inquietação e tremores.

- Raras: perturbações da atenção, disfunção da memória e tiques.

- Muito raras: alucinações, desorientação, gagueira, ideação e comportamento suicidas e sintomas obsessivo-compulsivos.

 

Caso ocorram reações neuropsiquiátricas, os prescritores deverão ponderar cuidadosamente os riscos e os benefícios de continuar o tratamento, sendo importante que os profissionais de saúde sigam algumas recomendações:

- Estar alerta para a possibilidade de reações adversas neuropsiquiátricas em pacientes que irão tomar montelucaste; os eventos têm sido reportados em adultos, adolescentes e crianças.

- Comunicar este risco aos doentes e cuidadores e recomendar a leitura do folheto informativo do medicamento.

- Aconselhar os pacientes e os seus cuidadores a procurar aconselhamento médico imediatamente caso ocorra alguma das reações neuropsiquiátricas nele referidas.

- Notificar as suspeitas de reações adversas ao sistema de Farmacovigilância.