O montelucaste é um antagonista dos recetores dos leucotrienos indicado como terapêutica adjuvante no tratamento da asma persistente ligeira a moderada, ou na profilaxia da asma cuja componente predominante seja a broncoconstrição induzida pelo exercício.

O tratamento com montelucaste tem sido associado, desde há alguns anos, ao desenvolvimento de reações adversas neuropsiquiátricas. O Grupo de Coordenação para o Reconhecimento Mútuo e Descentralizado (CMDh) da Agência Europeia do Medicamento (EMA) e a agência reguladora norte-americana (FDA) confirmaram, recentemente, a existência destes riscos e consideraram não existir suficiente conscientização sobre os mesmos por parte dos profissionais de saúde, nem adequada transmissão de informação aos pacientes e cuidadores. Em consequência, ambas as agências determinaram a inclusão de advertências adicionais na informação dos medicamentos contendo montelucaste.

Uma revisão efetuada pelo Comité para Avaliação de Riscos em Farmacovigilância (PRAC) deu conta da possível associação de perturbações da fala à terapêutica com montelucaste. Foram reportados casos de gagueira, a maioria dos quais envolvendo crianças com idade inferior a 5 anos. O tempo médio para aparecimento foi relativamente curto – 8 dias,1,3,4 por vezes em associação a outros eventos neuropsiquiátricos. Em mais de metade dos casos os sintomas desapareceram após descontinuação da medicação; em alguns casos ocorreu o reaparecimento dos sintomas após reexposição ao fármaco, todos em crianças.

Esta revisão endossou também a inclusão na informação dos medicamentos contendo montelucaste de relatos muito raros de sintomas obsessivos-compulsivos, que geralmente ocorreram após um período de tratamento mais prolongado – tempo médio para aparecimento de 61 dias, por vezes em conjunto com outros eventos neuropsiquiátricos. A maioria dos casos resolveram-se com a interrupção do tratamento.

A FDA, após revisão da informação disponível, reavaliou os benefícios e riscos do uso do montelucaste e decidiu reforçar as advertências existentes sobre as alterações comportamentais e do humor e os relatos de suicídios. Em alguns casos, os indivíduos tinham comorbilidades ou tomavam outros medicamentos associados a risco aumentado de alterações comportamentais ou autoagressão.

 

Em resumo, a reações adversas neuropsiquiátricas do montelucaste incluem:

- Pouco frequentes: perturbações do sono, incluindo pesadelos, insónias, sonambulismo; ansiedade, agitação, incluindo comportamento agressivo ou hostilidade; depressão; hiperatividade psicomotora, incluindo irritabilidade, inquietação e tremores.

- Raras: perturbações da atenção, disfunção da memória e tiques.

- Muito raras: alucinações, desorientação, gagueira, ideação e comportamento suicidas e sintomas obsessivo-compulsivos.

 

Caso ocorram reações neuropsiquiátricas, os prescritores deverão ponderar cuidadosamente os riscos e os benefícios de continuar o tratamento, sendo importante que os profissionais de saúde sigam algumas recomendações:

- Estar alerta para a possibilidade de reações adversas neuropsiquiátricas em pacientes que irão tomar montelucaste; os eventos têm sido reportados em adultos, adolescentes e crianças.

- Comunicar este risco aos doentes e cuidadores e recomendar a leitura do folheto informativo do medicamento.

- Aconselhar os pacientes e os seus cuidadores a procurar aconselhamento médico imediatamente caso ocorra alguma das reações neuropsiquiátricas nele referidas.

- Notificar as suspeitas de reações adversas ao sistema de Farmacovigilância.